Da vez que o burro do prefeito foi eleito!
Da vez que o burro do prefeito foi eleito!
Os habitantes de Vila Boa Esperança se encontravam pelo menos duas vezes na semana, menos empolgados no domingo pela manhã na missa, e na feira de sábado, que acontecia no ginásio da cidade, os primeiros feirantes chegavam 5h30 da manhã com leite recém tirado, e eram bem recebidos pelos bêbados que já tinha virado a noite no botequim da Dona judite, até 9h às mesinhas com tudo que tinha para vender estavam prontas, e no máximo até às 13h tudo que tinha que se comprar, toda troca que tinha que se fazer, toda caridade deixada para os menos favorecidos já tinha sido feita. A Partir das 13h um marasmo tomava conta do local, os que vinham das fazendas para vender, comiam a marmita e tiravam a sesta debaixo das barracas, nas casas da cidade só havia a janela aberta para entrar o ar. E das 14h em diante, até antes um pouco de cair o sol, era o evento mais esperado da semana, que daria para se repetir no domingo, antes, durante e depois da missa, se o povo de Vila Boa esperança perdesse os escrúpulos da fé e do respeito, mas falavam:
-"Domingo é santo, e outra, padre vê debaixo dos panos "
Mas sábado de tarde não tinha toda essa formalidade, e os negócios todos já tinham sido feitos, os meninos se juntavam em parte do ginásio para brincar de bola, ou algum outro passatempo, havia uma promessa de que um dia até um campeonato sairia daquelas partidas. As moças viam as mesmas amigas da escola, a diferença é que, dessa vez em vez do livro eram os chás das bonecas, aquela que não queria participar e ficavam de olho no jogo dos meninos, querendo namorar.
Essa separação acontecia não só com os pequenos, mas com os adultos também, todos os homens de um lado e as mulheres do outro. Cada um cuidando dos seus assuntos, era uma assembleia, era a palavra, não tão santa quanto a de domingo, mas às vezes até mais interessante.
Do lado dos homens, a prosa era com café, menos o marceneiro gaúcho e o curtidor uruguaio, esses tomavam mate. Os assuntos iam de jogos de futebol,política, a fofocas e os lanches no bicho. E a promessa era sempre a mesma.
"Se eu ganhar hoje, amanhã dou metade na missa"
Do lado das mulheres, a conversa era parecida, trocando o futebol pela roupa e o bicho pela rifa, porque, segundo, era uma atividade mais nobre por ajudar quem precisava.
Às vezes a conversa de uma roda, pulava para a outra e toda aquela assembleia dispersa virava uma grande coro, isso foi o que aconteceu neste sábado, do lado dos homens o assunto era a política, daqui uma semana era eleição,
"Reeleger o Onorio vai ser a pior besteira", disse o pedro, gerente do banco
"Mas aquele Ricardo, que veio de indicação do governador não me fez as graças, que o governador leve para a cama dele, já que foi ele que gostou tanto dele", disse o Gaúcho.
De um lado começava a surgir os apoios de um e de outro, sempre buscando os proprios interesses, do lado dos peoes e fazendeiros, que não eram muito entendidos da política, mas mais por questão de amizade, queriam manter o Onorio, dizendo,
se não esta me atrapalhando e puxa a carga o burro é bom.
Do lado dos comerciantes e do banqueiro, queriam porque queriam tirar o Onorio, para eles, e principalmente para o Pedro do banco, ele era o atraso no desenvolvimento da cidade, e melhor Ricardo na cama do governador do que Onorio na cama da mulher dele.
(entrelaços que agora elucido para você leitor, deixando claro o assunto e não me alongando no texto, Onorio, o prefeito, tem um caso com a mulher de Pedro do banco, que Pedro descobriu a pouco tempo e se finge de desentendido. Todo mundo sabe que a mulher do banqueiro tem um caso com o prefeito. O prefeito e a mulher do banqueiro sabem que o banqueiro sabe do caso, e o banqueiro sabe que o prefeito e a mulher dele, sabem que ele sabe que eles tem um caso. A cidade sabe que todos sabem, e você, agora, sabe também. continuando a história principal)
A conversa na roda das mulheres estava beirando o ápice da vida da vida alheia quando dona Mariazinha, ouve na roda ao lado a frase do Pedro baqueiro
E vocês por acaso vão votar no burro do prefeito ?
Eu prefiro muito mais esse burro do que esses ladrões do governo. Falou o açougueiro
A Partir daí, por aqueles desentendimentos que a vida traz, de forma sutil a bagunça estava se generalizanda, porque as esposas iam nos maridos sem o decoro que tinha até pouco para saber se era verdade que o burro do prefeito era candidato, na rodas das mulheres começaram a analisar se era uma boa ideia colocar um burro na prefeitura, algumas vinham com os prós e contra, "pelo menos não vai falar muito", "mas e se quiser cobrar capim como imposto?", "deixa de ser boba que dando cenoura o prefeito vai fazer o que a gente quiser".
-Colocando o burro no dia da eleição, a gente toda vota nele. Ele ganhando a gente coloca ele para dentro da prefeitura - disse um.
Quando a gritaria estava mais forte, e a criançada veio ver o que estava acontecendo, foi daí que a novela se desandou, quando conseguiram colocar ordem no Ginásio, ninguém sabia de onde a conversa tinha partido, mas todos tinham a mesma resolução.
Que o burro do prefeito Onorio era candidata à prefeitura,mas ninguém sabia quem o tinha colocado na eleição. Seguindo alguns meninos, a candidatura de bicho já era um sucesso na Europa e nos Estados Unidos, e que Vila Boa Esperança, como sempre, estava era atrasada. E que o burro, para aqueles que se importavam com o bichinho, estava era feliz com a eleição, e tinha ótimos planos, e fé que ganharia. Com esse veredito, todos se renderam à candidatura.
Nesse ponto o que tinha era apenas uma roda. Dos antigos partidários de Onório, e Ricardo, havia os eleitores do burro, dizendo que "melhor a cidade ser governada por quem não esconde o que é". Daí se pôs o plano em ação, ideia vinda primeiro do Bento da carroça; De noite Iriam 3 no curral, logo se prontificaram um dos fazendeiros que estavam na conversa, o Bento da Carroça e o Pedro do Banco. Não iriam nessa noite porque no dia seguinte havia missa, e não podiam cometer o pecado do furto e depois ir para a frente do padre. Mas ficou acertado que fariam isso terça à noite, 4 dias antes da eleição. Eles iriam no curral de Onório, pegar o burro candidato. Nesse ponto um menino intrometido disse saber qual era, e que das vezes que tinha ido no curral, ela tinha os mesmos jeitos de Onório na prefeitura e a calma do tal Ricardo que vinha a mando do Governador. Então, o menino iria também. Sequestrando o burro de terça para quarta, e trazendo ela sábado no ginasio para a eleição.
Mas qual é o nome do burro? -um dos eleitores perguntou
O menino que dizia saber qual era o burro logo se prontificou a dizer,
É Estrelinha, mas é macho, disso eu sei.
Algumas senhoras que eram costureiras prontificaram para fazer o terno e a faixa, escrito bem grande,"ESTRELINHA O PREFEITO", afinal um tinha gritado
"-Candidato a prefeito usa terno e a faixa para quando ganhar"
E o Estrelinha, caiu no agrado da gente no ginásio, com um e outro dizendo, - era muita falta de respeito ficar chamando o Nosso Estrelinha de o burro do prefeito. A meninada já tinha feito a música da campanha para o candidato. E o banqueiro, comerciantes e fazendeiros discutiam as propostas do burro e como ele modernizaria a cidade. Já quase, na hora de ir embora, dentre um aperto de mão e outro, dos leitores mais fanáticos já se ouvia,
"Nunca teve e nunca terá melhor prefeito para Vila Boa Esperança que o burro Estrelinha."
Na missa, o assunto não foi outro, "O estrelinha". Logo a popularidade já estava se espalhando para aqueles que não estavam no dia anterior no ginásio, e aumentando por aqueles que agora estavam divulgando a campanha do burro do prefeito. Os candidatos Onorio e Ricardo nem se aperceberam do que estava acontecendo. Onoria quando ouvia na prefeitura dizerem que iam votar no burro do prefeito, agradecia o voto, apesar de se doer pelo titulo de burro. mas falava,
-"voto é voto, conto com mais um".
E Ricardo quando ouvia do quarto da pensão que tinha alugado que o candidato mais forte era o tal do burro do prefeito, até se sentia bem, dizendo,
se estão chamando o prefeito de burro, ta no papo para mim.
Na madrugada de terça para quarta, como haviam planejado, foram roubar o burro do prefeito, chegando lá foi tudo muito fácil, menos na hora de colocar o burro na carroça, inclusive essa foi uma das primeiras exigência dos eleitores,
- O nosso prefeito não anda a pé.
quando foi se colocando o burro na carroça, ele empacou. No dia seguinte quando foi falado no buteco de dona Judite, que estava sendo usada de núcleo para a campanha do Estrelinha, sobre o ocorrido, alguns eleitores mais simbologistas, diziam que era o peso de ser prefeito e que por estrelinha desempacar, significava que ela aceitava e que o mandato seria um sucesso.
Chegando no dia da eleição, sábado, na parte da manhã teve a feira no ginásio como sempre. A tarde, logo depois da sesta, foram todos para a frente da prefeitura, Honório e Ricardo cada um de um lado do palanque sorrindo, vez em quando indo no público para tentar puxar um voto a mais, outra hora indo falar com a família que estava desde cedo para prestigiar. Não aguentavam mais esperar para as 3h que era a hora de contar os votos que estavam sendo depositados na caixa desde o meio-dia. Quando mais e mais placas de ESTRELINHA O PREFEITO, e, NESSE BURRO EU CONFIO, começavam a aparecer e nem Onorio nem Ricardo entendendo nada.
Era duas horas e meia quando da rua principal que morria na prefeitura começa a ouvir um grupo de meninos correndo e berrando, algumas mulheres chorando e o carro de som anunciando estrelinha o prefeito, e uma população maior do que a que estava na prefeitura vinha atrás da carroça, de total apoio ao candidato estrelinha. o carro para no meio do palanque, dividindo os candidatos, Onorio a esquerda, o Estrelinha no meio e Ricardo a direito. Quando a carroça para totalmente, O estrelinha olha para o lado e relincha
- "HUUN UN UN".
Mais uma vez os simbologistas da campanha tentaram entender o que estava ocuto na fala do Estrelinha, sem entederam apenas puxaram palmas, que todos humildimentes acataram e os outros dois cadidatos, batento palmas de respeito, se comiam de inveja por dentro pelo carisma do burro.
Chegando às 3 horas, começava a contagem dos votos. Conta um, conta mais um, e conta, no final, era O Estrelinha com 1568 votos, contra 15 de Onório e 9 de Ricardo. No mesmo estante A faixa que havia sido preparada foi posta no Burro e ele foi levado para dentro da prefeitura. A Noite foi de festa, os que moravam na fazenda acharam jeito de dormir na cidade e no domingo de manhã a contragosto do padre fizeram ele abençoar tanto estrelinha quanto o mandato dele. Na missa à repulsa do padre, não só fizeram O estrelinha sentar na frente como deram um espaço no coro, que como se tivessem ensaiados Estrelinha soltava os urros na hora certa, acompanhando o prato.
O mandado de Estrelinha começou oficialmente na segunda após a eleição e, para um burro era um trabalho demasiadamente tranquilo. ele ficava no gabinete do prefeito de segunda a sexta das 9h as 15h com uma hora de almoço. e tinha sempre um empregrado para ter certeza que ele esta sempre com comida e agua e que a janela era boa para ele nos dias de sol e fehada nos dias de chuva.
Sempre que tinha uma proposta para o Estrelinha aprovar, era deixado do lado do cocho, junto com um grande balde de tinta, e quando o Estrelinha tinha vontade ele ia e passava o casco na tinta e pisava na proposta, aprovando, Tinha umas que ele nem chegava perto. No final de um mês ele reajustou 3 impostos, abaixando o preço, aprovou a construção de uma linha ferroviária, que estava a 3 anos em projeto, comprou 2 fogões e aumentou em mais 100 litros o leite para a escola e negou 7 compras de carros para a prefeitura.
Os mais apaixonados pelo prefeito falavam que a qualquer dia ele pintaria um quadro com o casco, e que ele tinha posto os vereadores no lugar certo.
E a frase se repetia, nunca houve e nunca terá prefeito melhor que o Estrelinha.

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