O por que você não aprende matemática? 3/3 (Fatores metodológicos)
Fatores metodológicos: decorar não é aprender
Chegamos à terceira parte da nossa série sobre o aprendizado da Matemática. Já falamos sobre fatores socioeconômicos e sobre o papel da formação dos professores. Agora, é hora de abordar o “como” a Matemática é ensinada nas salas de aula — ou seja, os fatores metodológicos.
Durante muito tempo (e ainda hoje, infelizmente), a Matemática foi ensinada como um conjunto de procedimentos para resolver problemas prontos. O aluno aprende uma fórmula, treina a aplicação em alguns exemplos e depois responde questões muito parecidas em uma prova. Quando erra, normalmente é porque "esqueceu" a fórmula. Mas será que aprender Matemática é só isso?
Essa abordagem mecânica, centrada na memorização de regras e na repetição de exercícios, tira da Matemática justamente o que ela tem de mais rico: a construção lógica, o raciocínio, a descoberta. A Matemática nasce de perguntas, de observações do mundo real, de tentativas de entender padrões e relações. Ela se desenvolve por meio de deduções, um processo social e temporal, não de "genios" que acordaram e descobriram uma fórmula nova do nada.
Em vez de perguntar "qual é a fórmula da área do triângulo?", poderíamos começar perguntando: "por que essa fórmula faz sentido?" Em vez de ensinar a fórmula de Bhaskara logo de cara, por que não explorar com os alunos como ela foi construída, a partir do completamento de quadrados, por exemplo, ou até mesmo usar uma imagem, ou GIF para entender a lógica geométrica da fórmula?
Muitos alunos se afastam da Matemática porque não veem sentido no que estão aprendendo. E não veem sentido porque o conteúdo não se conecta com sua experiência de vida, nem com sua intuição. O ensino tradicional raramente convida os estudantes a pensar, explorar, criar hipóteses, errar e refazer. Ele apenas cobra que acertem rápido.
A Matemática não é só "resolver problemas" no estilo “João comprou 3 maçãs”. Ela é também uma forma de ver o mundo. Está no ritmo das músicas, no design das construções, no controle de gastos, na previsão do tempo, na escolha da rota mais rápida, nos jogos de estratégia, nas redes sociais e em coisas que ainda nem entendemos. Mas para que os alunos percebam isso, o ensino precisa mudar o foco: sair da resolução cega e ir para a compreensão.
Além disso, quando o aluno compreende por que uma ideia matemática funciona, ele não depende tanto da memória, porque faz sentido. E quando faz sentido, há apropriação do conhecimento.
É claro que existe espaço para treino e memorização em Matemática — como há em qualquer linguagem. Mas decorar não é o mesmo que aprender. E quando o ensino se limita a decorar, não estamos ensinando Matemática. Estamos ensinando a passar em provas.
Referências
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SKOVSMOSE, Ole. Educação matemática crítica: a questão da democracia. 4. ed. Campinas: Papirus, 2008.
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Pessôa E. B; Júnior, V. D. Contribuições da Educação Matemática Crítica para o processo de materacia nas séries iniciais do Ensino Fundamental: um olhar através dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
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